domingo, 19 de dezembro de 2010

“CAFÉ C/ LEITE SEMPRE”

“CAFÉ C/ LEITE SEMPRE”
(Leia os livros de Hotelaria
De M. Mendes Leite Júnior)

Meia de leite, o que é isto,
Que ouço ultimamente?
Onde está este registo,
Que é dito por toda a gente?

Alguém disse de boa fé…
Quanto ao líquido que se deite,
Numa chávena, o café,
E depois, encher com leite!

Da meia, é caturrice…
Nem tem cabimento algum
E além de ser burrice,
Não faz sentido nenhum.

O que resta desta meia,
Que se encha, que se ajeite…
É preferível ser cheia,
Cheia de café com leite!

Não é meia nem é cheia,
Nem é nome que se aceite
P’ra se sair desta teia…
É “Chávena de Café com Leite!”


09-11-10, João da Palma

BOAS FESTAS

BOAS FESTAS


São p’ra ti os meus versos de Natal
Boas Festas, um ano dia a dia
Que seja uma festa Universal
Plena de paz, amor e alegria


E assim neste meu gesto natural
Meus votos vão p’ra ti, sem fantasia
Como água cristalina, eu bebo igual…
Na sede afectuosa em harmonia!


Será p’ros meus amigos e extensivo
A toda a paz na Terra, que diviso
Um mundo mais fraterno e social!


Se espalhe este soneto e a mensagem
Ao mundo, para a mais terna viragem
Desejo a todos vós; Um Bom Natal!


2010,João da Palma

domingo, 21 de novembro de 2010

“OS TRILHOS DESTA ESTRADA”

“OS TRILHOS DESTA ESTRADA”

Quem me havia a mim dizer,
Nesta longa caminhada…
Sentir que me vou perder,
Pelos trilhos desta Estrada!


Depois de ter percorrido
Seca e Meca, e Alguidares
De Baixo, e outros lugares
Estou agora convencido
Que tudo só faz sentido
Depois de se conhecer
Bati na vida a doer…
Com todas as posses minhas,
Ter de sofrer as estopinhas…
Quem me havia a mim dizer.


Já conheci tanta gente
Sempre pela vida fora
Deparo com mais, agora
Neste mundo diferente
Vejo frequentemente
Uma manhosa escalada
Por não ser facilitada
Numa selva arrepiante…
Serei mais um caminhante
Nesta longa caminhada…


Caminhei devagarinho
Eu nunca fui apressado…
E tive sempre o cuidado
Não me enganar no caminho
Acompanhado ou sozinho,
Vou indo como Deus quer
Faço por me esquecer
Das verdades do passado,
Ainda fico assustado
Sentir que me vou perder.


No meio deste labirinto…
Não posso dar firmes passos
Com entraves e embaraços,
Por vezes até pressinto
Que me perco, se não finto…
Toda esta trapalhada…
Metido nesta embrulhada
Luto, não ganho a batalha…
Metido com a canalha…
Pelos trilhos desta Estrada


Se ainda não me perdi,
Para meu maior castigo,
Com o que no mundo vi,
Já nem me encontro comigo!

21-11-10, João da Palma

terça-feira, 9 de novembro de 2010

“CAFÉ C/ LEITE SEMPRE”

“CAFÉ C/ LEITE SEMPRE”
(Leia os livros de Hotelaria
De M. Mendes Leite Júnior)


Meia de leite, o que é isto,
Que ouço ultimamente?
Onde está este registo,
Que é dito por toda a gente?


Alguém disse de boa fé…
Quanto ao líquido que se deite,
Numa chávena, o café,
E depois, encher com leite!


Da meia, é caturrice…
Nem tem cabimento algum
E além de ser burrice,
Não faz sentido nenhum.


O que resta desta meia,
Que se encha, que se ajeite…
É preferível ser cheia,
Cheia de café com leite!


Não é meia nem é cheia,
Nem é nome que se aceite
P’ra se sair desta teia…
É “Chávena de Café com Leite!”


09-11-10, João da Palma

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

SE…

Se eu não tivesse vindo naquele Verão
Para a praia da Rocha, certo dia!
Não sei nem faço ideia onde estaria
E como seria esta evolução!


Foi nos anos sessenta desde então
Fui fonte dessa vida que nascia
E que à minha volta florescia
À beira do Arade em Portimão!


Se eu tivesse ficado no Alentejo
Teria outras coisas que não vejo…
Melhores ou piores, ou talvez nada!


E se eu tivesse ido para a China…
Tal seria esse mundo, essa sina…
De ter à minha volta “Chinesada”


22-09-10, João da Palma

sábado, 18 de setembro de 2010

COROA DE SONETOS

COROA DE SONETOS
DEDICADO AO CORAÇÃO COM UM TITULO DE LISDÁLIA
VIEGAS DOS SANTOS. TAL COMO FEZ O POETA JOAQUIM SUSTELO
(SE O CORAÇÃO FALASSE, O QUE DIRIA?)
João da Palma
1

1

Se o coração falasse, o que diria?
Num mundo de costumes adversos…
Nos cento e noventa e seis versos,
Narrados nesta coroa, não cabia!

Se o coração dissesse, o que sabia,
Talvez que os segredos mais diversos,
Fariam mil enredos controversos
Mas iam aclarar o que sentia!

Como então nós sabemos, ele não fala
Surdina a cada impulso e não se cala…
Silenciosamente a avisar!

No tempo, paciente sempre batendo
Nas nossas consciências vai relendo…
Em cada pensamento a palpitar!

2

Em cada pensamento a palpitar!
Escondido no teu peito, aí ao lado…
Te alegra, te entristece acelerado…
E que às vezes te põe a soluçar!

É ele que te incita a murmurar
Te avisa, quando estás preocupado
Será que está também muito arredado,
Daquilo que não vai solucionar?

Repara muito nele e seus sinais…
Nas duras reacções mais desiguais
Sempre que nos acorda e nos excita…

Mas tem muito cuidado, se desliza…
Porque ele mansamente nos avisa
Batendo como sente, mas não grita!

3

Batendo como sente, mas não grita!
Iguais; nunca haverá dois corações
Embora em semelhantes emoções
Nos leva à aventura, ou à desdita!

Neste mundo patético… uma fita!
De euros, desenhado em milhões…
Dos ricos, da miséria, dos burlões…
Desiludido, o homem se limita!

Vejo esta liberdade conspurcada…
Numa sociedade mal tratada
Onde a democracia está presente.

Tudo será mais fácil, certo dia…
Quando haja união e harmonia
Nos corações, pulsando livremente!

4

Nos corações, pulsando livremente!
Nesta desigualdade acentuada
Numa população que é saqueada,
Tudo seria mais conveniente!

Mas vemos o avaro ferozmente…
Com as rédeas da nação descontrolada
Eles comem tudo e não nos deixam nada,
E ainda vão votar alegremente!

Mas coração não bate com ternura,
Se este é esculpido em pedra dura…
Só vêm os seus lucros aumentados.

Mas se o povo um dia acordar,
E queira ver as coisas no lugar;
Muitos irão bater descontrolados!

5

Muitos irão bater descontrolados!
Os corações de tanta vilania…
Se afirmem competências, valentia!
E sejam os corruptos condenados.

Que o feito dos mais jovens deputados,
Se abra ao país com galhardia!
Acabando com a reles fantasia
Destes, e nos poleiros almejados…

Que falem peito aberto a trabalhar…
E que em vós todos possamos confiar
Num povo já descrente e aflito!

De coração ao alto, lutaremos!
Com certas pancadinhas, esperemos
Mas que embora calado, dê um grito!

6

Mas que embora calado dê um grito!
Vociferando… para a amizade
Também pode esconder onde há verdade,
Às vezes faz o dito por não dito!

Mas no campo amistoso, ainda repito
Palavras do meu peito em consonância
Se o coração falasse, a abundância…
Soava neste mundo onde me agito!

Eu abundantemente espalharia
Recados de bom senso em sintonia…
Com esse sentimento, sempre somando.

Nesta esfera de abutres, repleta…
No palco desta vida assaz pateta…
Eu gritaria sim, silenciando!

7

Eu gritaria sim, silenciando!
Que a amizade é livre e voluntária
Constrói o ambiente, é necessária…
No círculo do amor e sussurrando!

É sempre o coração que vai ditando
As ordens à razão, sendo primária…
Segue a estrada da vida secundária…
Misteriosamente e alvitrando!

E quando ele bate acelerado
Alegre e às vezes preocupado…
Observa levemente, nossa conduta

Vai-nos pondo às claras, vivamente,
O que cada um diz e o que sente
A máquina calada, em escuta!

8

A máquina calada, em escuta!
Outras vezes não escuta nem badala…
Erra, nos surpreende e faz gala…
Quando a seu belo prazer, tudo desfruta!

De tudo que nos diz sua conduta
Pérfido, qual trajecto duma bala!
Alega sem falar, e não se rala
Faz moça, quando erradamente luta.

Mas coração ao alto, tantas vezes
Não vale a pena pensar nos revezes…
Que ao céu, vozes de burro não chegarão!

A vida continua, nos avisa
Dentro do sofrimento se agoniza…
Faz-nos agir em cada pulsação!

9

Faz-nos agir em cada pulsação!
Mas corações há tantos espalhados
Tal como a rochedos comparados
Vazios na desculpa e no perdão!

Se o coração falasse, aí então…
Onde há muitos segredos bem guardados,
Não serviriam mais os cadeados…
Que muitos aferrolham em prisão!

Não há certo ruído nem pulsar
E nem pensa sequer adivinhar
No seu bater, assim desconfiante!

Escuta coração e não te alteres…
Na terra entre homens e mulheres,
Não será só o teu mais importante!

10

Não será só o teu mais importante!
Ou deverás contar com os demais?
Embora no bater sejam iguais,
Há sempre um que é mais determinante!

E assim, mais ou menos radiante…
Pensando nos valores racionais,
Se tudo fossem causas naturais!
Seria sempre mais estimulante!

Se o coração falasse, tais ruídos
Incómodos seriam os bramidos
Directos aos ouvidos, estrondear!

Talvez que nem um santo os ouviria
E eu por mim também exclamaria!
Sei lá quem os poderia escutar?

11

Sei lá quem os poderia escutar!
Se em cada pensamento, nos gritasse…
Sem podermos agir no que mandasse…
Como nos deixaria a meditar!

E enquanto escutamos o seu sonar…
À beira de um grito se alarmasse;
No peito um mau estado assim ficasse
P’los gritos que não deu e queria dar!

No silêncio, não grita o coração
Embora com apertos de razão…
Nos seus lentos latejos quer ouvir!

O que a sorte lhe esconde e lhe nega…
Em casos sucessivos, sustos prega…
Não pode descansar, nem a dormir!

12

Não pode descansar, nem a dormir!
Está permanentemente acordado,
Para manter a vida e o cuidado
Pelo resto do corpo, e prosseguir!

Não deve o estado d’alma advertir…
O coração de tudo ser culpado
Se é na nossa cabeça o resultado
E não nas pulsações, que vai surgir!

É na massa encefálica, retidos…
Os bons e os maus passos atingidos…
Que em nossa vida todos vamos dar.

Bate alegre, suave e com cadência…
Na branda agitação e veemência!
Se gritas coração, vais magoar!

13

Se gritas coração, vais magoar!
Mantêm-te no silêncio, sossegado!
Ajuda este meu corpo já cansado…
Nos percalços da vida, a suportar!

E a quem me ler também vou convidar,
A ter o seu na vida bem tratado…
Deixei por bem a todos, um recado
De boas intenções, a aconselhar!

Falei dos corações em poesia,
Suscitei-lhes avisos que sabia…
E que achei também conveniente!

Nos passos e batidas, mesmo assim
Em verso descreve-los, quanto a mim,
Ainda não será suficiente!

14

Ainda não será suficiente!
Mil coroas, p’ra falar do coração
Na descoberta se este falasse ou não,
Com surpresas tentando ardentemente!

Tornar-se-ia então muito exigente…
Ao ver negada a sua condição…
Que apenas nos desperta em pulsação,
Mas, entrar em diálogo; fica ausente!

Vim nesta coroa assim o livro abrindo
Medindo o pulso às vezes, fui seguindo
E perguntando se ele me gritaria!

Mistério, nossa alma encanecida…
Que nunca saberemos nesta vida,
Se o coração falasse, o que diria?

17-05-2010, João da Palma

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

“HORAS CERTAS”



“HORAS CERTAS”

Se houvesse o ON e OFF no coração,
Haveria muita gente a só ligar
O seu, p’ra seu interesse e ocasião…
Que não fosse de si só, se interessar!


Mas como não há essa ligação…
Não podem…um momento só parar
Vão pulsando a frio sem emoção
Alguns, numa frieza a congelar!


É hora de tomar-se bem o pulso
A tantos corações, e seu percurso
Aonde ali a nu, se podem ver…


E num certo pulsar e sem melhoras,
Não batem corações em certas horas,
Que sejam horas certas de bater!


13-09-10, João da Palma

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

POETIZANDO

POETIZANDO

Poetizo a redondilha,
A quadra que se perfilha
Nos poetas, a Rainha...
Faço oitavas à Camões,
Quadras de intervenções,
E a Glosa picadinha!


Faço crítica e aponto
Os males do mundo tonto...
Mas faço amor, sou gentil!
Uma sextilha manhosa,
Sei desenhar... uma rosa,
Nos lindos jardins de Abril!


Faço um poema sonhado...
Acordo contigo ao lado,
Começo a rimar esplendor!
Ironizo a maldição
Dou um beijo em tua mão...
Faço um Dueto de amor!


Rimo distância com perto,
Pinto o mar e o deserto...
Num soneto fantasia...
Faço poemas comigo,
E fazendo amor contigo,
Estamos nesta Poesia!


18-08-10, João da Palma

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SÓNIA FERNANDES

“SEMPRE CRIANÇA”

“SEMPRE CRIANÇA”

Não é Grande, esta Menina
Ela é sempre pequenina…
Por favor, não a ofendas…
Que ela incomoda, eu sei
Porque assim que ela vos vê,
Está sempre a pedir prendas!


Menina bem ensinada
Para nunca pedir nada…
Nem aos de suas raízes…
Mas, sabemos que as Crianças,
Bastam pequenas lembranças
P’ra se sentirem felizes!


Menina à sua medida…
É igual a si, na vida
No seu tamanho, Diferente!
Não se mete na balança…
A alma duma Criança
Tal como ela vive e sente!


Todos nós temos um pouco
De inteligente, de louco…
E de Criança também!
Somos pequenos demais
Uns dos outros, desiguais
Mas Grande; não é ninguém!


09-08-10, João da Palma

terça-feira, 3 de agosto de 2010

“PTERÍGIO SEGUNDO”

“PTERÍGIO SEGUNDO”

Esta é mais uma à Camões…
Em Julho, há poucos dias
Se fosse o Euro-Milhões,
Dava-me mais alegrias!


Foi mais uma operação
Ao pterígio segundo
São as passadas no chão
Que damos cá neste mundo!


No meu estado natural
Apanhei o Vai-e-Vem
Dirigi-me ao Hospital
Sem incomodar ninguém!


Apareceste, Querida!
A seguir e de surpresa!
Deixando a Sónia entretida…
Com a Senhora da limpeza!


Por isso, o meu viver
C’os meus olhos, é assim,
Para que vos possa ver
Felizes ao pé de mim!


03-08-10, João da Palma

“ESMORCIDO”

“ESMORCIDO”

Esmorecido.
Por ver o mundo soberbo
Incrédulo e acerbo…
Cruel e indiferente
Insensível ao redor…
Cada qual é o maior…
Apático e indolente!


Esmorecido.
Por certa inteligência
Vivendo na apetência…
Apenas no próprio interesse
Vazio de sabedoria
A cada minuto espia…
Mirando sua benesse…


Esmorecido.
Por reparar na ganância
Aos que só dão importância
A tudo em seu proveito
Esmorecido vou ficando
Quando para traz olhando
As causas sem o efeito!


Esmorecido.
E nesta consternação
Resta-me a consolação
De ser melhor do que aqueles,
Que ao espelhar sua frieza
De espiritual pobreza,
Até me faz pena deles!


02-08-10, João da Palma

terça-feira, 13 de julho de 2010

NÃO ESTÁ NAS MINHAS MÃOS

NÃO ESTÁ NAS MINHAS MÃOS


Já lá vão tantos anos, sina minha!
Vivendo neste mundo desordenado
Destino meu que não se adivinha…
Nem está em minhas mãos vê-lo mudado!


Nestes anos passados já eu vinha
Cismando e a ficar preocupado…
Que as estranhas presenças, neta linha
São como ameaças de um tornado!


Vão-se desordenando as consciências…
Mitigam por aí, inteligências
E o essencial sem se estudar…


Passa-se o tempo em banalidades…
As competências são as raridades…
Com estes… não se pensa em trabalhar!


13-07-10, João da Palma

AS MINHAS MÃOS

AS MINHAS MÃOS

As minhas mãos:
Que aprenderam a escrever
Na ardósia, e a saber
Usar a pena de pau…
Mãos que fechava e abria
E muito a elas devia,
Até ao 2º grau!


Mãos que se foram abrindo
Em cada passo seguindo,
A minha fragilidade…
Cada Inverno, cada Verão,
Lá prosseguia o João
Com doze anos de idade!


Aos treze, de mãos vazias…
Enfrentava duros dias
Outras formas, novos medos!
Mãos que se foram fechando
E abrindo de vez em quando
Apontando ao mundo, os dedos!


As minhas mãos estão aqui…
Foi com elas que eu vivi
Que tudo me aconteceu…
Às mãos, o tempo me foge
Foram ontem e são hoje
As minhas mãos, sou eu!


12-07-10, João da Palma

terça-feira, 11 de maio de 2010

“OMISSÃO”

“OMISSÃO”


Eu já não sei se sou eu
E o que fui, quase esqueci.
A sina que deus me deu,
Não fui eu que escolhi!



Lembrando um pouco o passado
Do tempo que fui criança,
Ainda tenho a lembrança
De algo menos desejado…
Tentei sempre pôr de lado…
O que não me convenceu
Vivi dias cor de breu…
Fictícia a minha alegria
Nesta minha travessia…
Eu já não sei se sou eu

Seria bom esquecer
O que foi de negativo
P’ra que eu possa ser activo
Mais no presente e viver
O que tive que resolver,
Penso que bem resolvi
Vou ficando por aqui…
Ao que Deus me destinou
Estou vendo bem o que sou
E o que fui, quase esqueci.


Tento esquecer a espinhosa
Vida, que tive em rapaz
Onde eu andava p’ra trás
Na estrada sinuosa…
Foi um tanto dolorosa
A passagem, quem nasceu
Nesse tempo e sofreu
Na pele, a ditadura…
Ter nascido nessa altura,
A sina que Deus me deu

À sina; chamo-lhe sorte
A quem vem acompanhado
Com a estrelinha a seu lado
Caminha, não perde o norte,
Ostenta o seu passaporte
Diferente ao que eu recebi…
Se por azar me perdi,
Vivo disso entristecido
Vir ao mundo e ter nascido,
Não fui eu que escolhi!...

11-05-10, João da Palma

sexta-feira, 16 de abril de 2010

PTERÍGIO (vulgo "Farpões")

PTERÍGIO ("vulgo "Farpões")

"Farpões foi em velhas datas
Que ao Pterígio se dava
Parecido às cataratas
Que punha a gente de gatas...
Quando a vista enevoava!


Eu fui então operado
Aqui, ao meu olho direito
Quando este estiver curado,
Ao esquerdo será marcado
A seguir, para o mesmo efeito.


Não sou Luís de Camões
Nem coisa que se pareça!
Sou natural de Tacões
Fui operado aos "Farpões"
E tenho um olho tapado!


Foi a partir deste dia
Que vejo menos ao perto
Tirei a fotografia
Para ver se conseguia
Vê-los; só com um aberto!...


07-04-2010, João da Palma

domingo, 7 de março de 2010

"MARCAS"



"MARCAS"


Tenho a marca da labuta,

Do trabalho e da luta

Dos braços, do dia a dia...

De gastar o que ganhava,

Do pouco que não sobrava,

Mas que faltava, eu sabia!


Marcado dos quinse aos vinte,

Dos trinta, desse requinte...

Que com mérito assumi!

Tenho a marca dos quarenta,

Dos cinquenta e sessenta,

Do que vejo, e do que vi!


A marca de provas dadas

Das agruras já passadas,

Do trabalho e do respeito

A marca de ser honesto

De marcar o meu protesto

De sêlos... que não aceito!...


Tenho a marca do que fiz

A marca de ser feliz

Às vezes menos; e então?

De marcas, estou bem servido

Do lido e do corrido...

De ser eu... de ser João!...


07-03-2010, João da Palma

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


QUEM ME DERA!...

QUEM ME DERA!...


Quem me dera ser Pintor
Para guardar numa tela...
Pintava todo o amor,
Que coubesse dentro dela!


Quem me dera ser Pintor
Pintar-te-ia falando
Em todos, com tal fervor...
Como se os tivesses olhando!


Num sobranceiro colorido
Para guardar numa tela...
Com o exacto sentido
Duma simples aguarela!


Dava-lhe o fundo e a cor
Dessa ausência de contacto...
Pintava todo o amor,
Que te tem sido abstracto...


Emoldurava num laço...
Esta menina, à janela...
Esperando aquele... abraço!
Que coubesse dentro dela!...


26-02-2010, João da Palma

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010


SONETO ESDRÚXULO

SONETO ESDRÚXULO


As sínteses sensíveis e hiperbólicas,
Que afluem das retóricas simpáticas,
Ouvem-se vozes bucólico-esquipáticas
E cépticas estrofes melancólicas.


Transformam as minúsculas simbólicas,
Que formam as acústicas pragmáticas,
Até mesmo as perífrases didáticas
Em notas apáticas apostólicas.


Por isso mesmo as plásticas miríficas,
Em crespúsculos de orgânicas magníficas,
Atacam as cloróticas frenéticas.


E as erróneas cantigas inarmónicas,
Continuam estéreis e lacónicas,
Vandálicas...Fantásticas...Proféticas!...


Agosto de 2006, João da Palma