sábado, 18 de setembro de 2010

COROA DE SONETOS

COROA DE SONETOS
DEDICADO AO CORAÇÃO COM UM TITULO DE LISDÁLIA
VIEGAS DOS SANTOS. TAL COMO FEZ O POETA JOAQUIM SUSTELO
(SE O CORAÇÃO FALASSE, O QUE DIRIA?)
João da Palma
1

1

Se o coração falasse, o que diria?
Num mundo de costumes adversos…
Nos cento e noventa e seis versos,
Narrados nesta coroa, não cabia!

Se o coração dissesse, o que sabia,
Talvez que os segredos mais diversos,
Fariam mil enredos controversos
Mas iam aclarar o que sentia!

Como então nós sabemos, ele não fala
Surdina a cada impulso e não se cala…
Silenciosamente a avisar!

No tempo, paciente sempre batendo
Nas nossas consciências vai relendo…
Em cada pensamento a palpitar!

2

Em cada pensamento a palpitar!
Escondido no teu peito, aí ao lado…
Te alegra, te entristece acelerado…
E que às vezes te põe a soluçar!

É ele que te incita a murmurar
Te avisa, quando estás preocupado
Será que está também muito arredado,
Daquilo que não vai solucionar?

Repara muito nele e seus sinais…
Nas duras reacções mais desiguais
Sempre que nos acorda e nos excita…

Mas tem muito cuidado, se desliza…
Porque ele mansamente nos avisa
Batendo como sente, mas não grita!

3

Batendo como sente, mas não grita!
Iguais; nunca haverá dois corações
Embora em semelhantes emoções
Nos leva à aventura, ou à desdita!

Neste mundo patético… uma fita!
De euros, desenhado em milhões…
Dos ricos, da miséria, dos burlões…
Desiludido, o homem se limita!

Vejo esta liberdade conspurcada…
Numa sociedade mal tratada
Onde a democracia está presente.

Tudo será mais fácil, certo dia…
Quando haja união e harmonia
Nos corações, pulsando livremente!

4

Nos corações, pulsando livremente!
Nesta desigualdade acentuada
Numa população que é saqueada,
Tudo seria mais conveniente!

Mas vemos o avaro ferozmente…
Com as rédeas da nação descontrolada
Eles comem tudo e não nos deixam nada,
E ainda vão votar alegremente!

Mas coração não bate com ternura,
Se este é esculpido em pedra dura…
Só vêm os seus lucros aumentados.

Mas se o povo um dia acordar,
E queira ver as coisas no lugar;
Muitos irão bater descontrolados!

5

Muitos irão bater descontrolados!
Os corações de tanta vilania…
Se afirmem competências, valentia!
E sejam os corruptos condenados.

Que o feito dos mais jovens deputados,
Se abra ao país com galhardia!
Acabando com a reles fantasia
Destes, e nos poleiros almejados…

Que falem peito aberto a trabalhar…
E que em vós todos possamos confiar
Num povo já descrente e aflito!

De coração ao alto, lutaremos!
Com certas pancadinhas, esperemos
Mas que embora calado, dê um grito!

6

Mas que embora calado dê um grito!
Vociferando… para a amizade
Também pode esconder onde há verdade,
Às vezes faz o dito por não dito!

Mas no campo amistoso, ainda repito
Palavras do meu peito em consonância
Se o coração falasse, a abundância…
Soava neste mundo onde me agito!

Eu abundantemente espalharia
Recados de bom senso em sintonia…
Com esse sentimento, sempre somando.

Nesta esfera de abutres, repleta…
No palco desta vida assaz pateta…
Eu gritaria sim, silenciando!

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Eu gritaria sim, silenciando!
Que a amizade é livre e voluntária
Constrói o ambiente, é necessária…
No círculo do amor e sussurrando!

É sempre o coração que vai ditando
As ordens à razão, sendo primária…
Segue a estrada da vida secundária…
Misteriosamente e alvitrando!

E quando ele bate acelerado
Alegre e às vezes preocupado…
Observa levemente, nossa conduta

Vai-nos pondo às claras, vivamente,
O que cada um diz e o que sente
A máquina calada, em escuta!

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A máquina calada, em escuta!
Outras vezes não escuta nem badala…
Erra, nos surpreende e faz gala…
Quando a seu belo prazer, tudo desfruta!

De tudo que nos diz sua conduta
Pérfido, qual trajecto duma bala!
Alega sem falar, e não se rala
Faz moça, quando erradamente luta.

Mas coração ao alto, tantas vezes
Não vale a pena pensar nos revezes…
Que ao céu, vozes de burro não chegarão!

A vida continua, nos avisa
Dentro do sofrimento se agoniza…
Faz-nos agir em cada pulsação!

9

Faz-nos agir em cada pulsação!
Mas corações há tantos espalhados
Tal como a rochedos comparados
Vazios na desculpa e no perdão!

Se o coração falasse, aí então…
Onde há muitos segredos bem guardados,
Não serviriam mais os cadeados…
Que muitos aferrolham em prisão!

Não há certo ruído nem pulsar
E nem pensa sequer adivinhar
No seu bater, assim desconfiante!

Escuta coração e não te alteres…
Na terra entre homens e mulheres,
Não será só o teu mais importante!

10

Não será só o teu mais importante!
Ou deverás contar com os demais?
Embora no bater sejam iguais,
Há sempre um que é mais determinante!

E assim, mais ou menos radiante…
Pensando nos valores racionais,
Se tudo fossem causas naturais!
Seria sempre mais estimulante!

Se o coração falasse, tais ruídos
Incómodos seriam os bramidos
Directos aos ouvidos, estrondear!

Talvez que nem um santo os ouviria
E eu por mim também exclamaria!
Sei lá quem os poderia escutar?

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Sei lá quem os poderia escutar!
Se em cada pensamento, nos gritasse…
Sem podermos agir no que mandasse…
Como nos deixaria a meditar!

E enquanto escutamos o seu sonar…
À beira de um grito se alarmasse;
No peito um mau estado assim ficasse
P’los gritos que não deu e queria dar!

No silêncio, não grita o coração
Embora com apertos de razão…
Nos seus lentos latejos quer ouvir!

O que a sorte lhe esconde e lhe nega…
Em casos sucessivos, sustos prega…
Não pode descansar, nem a dormir!

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Não pode descansar, nem a dormir!
Está permanentemente acordado,
Para manter a vida e o cuidado
Pelo resto do corpo, e prosseguir!

Não deve o estado d’alma advertir…
O coração de tudo ser culpado
Se é na nossa cabeça o resultado
E não nas pulsações, que vai surgir!

É na massa encefálica, retidos…
Os bons e os maus passos atingidos…
Que em nossa vida todos vamos dar.

Bate alegre, suave e com cadência…
Na branda agitação e veemência!
Se gritas coração, vais magoar!

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Se gritas coração, vais magoar!
Mantêm-te no silêncio, sossegado!
Ajuda este meu corpo já cansado…
Nos percalços da vida, a suportar!

E a quem me ler também vou convidar,
A ter o seu na vida bem tratado…
Deixei por bem a todos, um recado
De boas intenções, a aconselhar!

Falei dos corações em poesia,
Suscitei-lhes avisos que sabia…
E que achei também conveniente!

Nos passos e batidas, mesmo assim
Em verso descreve-los, quanto a mim,
Ainda não será suficiente!

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Ainda não será suficiente!
Mil coroas, p’ra falar do coração
Na descoberta se este falasse ou não,
Com surpresas tentando ardentemente!

Tornar-se-ia então muito exigente…
Ao ver negada a sua condição…
Que apenas nos desperta em pulsação,
Mas, entrar em diálogo; fica ausente!

Vim nesta coroa assim o livro abrindo
Medindo o pulso às vezes, fui seguindo
E perguntando se ele me gritaria!

Mistério, nossa alma encanecida…
Que nunca saberemos nesta vida,
Se o coração falasse, o que diria?

17-05-2010, João da Palma

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

“HORAS CERTAS”



“HORAS CERTAS”

Se houvesse o ON e OFF no coração,
Haveria muita gente a só ligar
O seu, p’ra seu interesse e ocasião…
Que não fosse de si só, se interessar!


Mas como não há essa ligação…
Não podem…um momento só parar
Vão pulsando a frio sem emoção
Alguns, numa frieza a congelar!


É hora de tomar-se bem o pulso
A tantos corações, e seu percurso
Aonde ali a nu, se podem ver…


E num certo pulsar e sem melhoras,
Não batem corações em certas horas,
Que sejam horas certas de bater!


13-09-10, João da Palma